“Um dos problemas dos humanos em nossa sociedade é a falta de um sentimento de divida, de obrigação” (A.J. Heschel).
Deus criou o homem e deu ordens para que sujeitasse a terra e dominasse sobre os animais. Fizemos disso uma teologia equivocada admitindo que tudo é nosso e para nós e que temos o direito a tudo.
Deus nos colocou neste mundo para enchê-lo e dominá-lo, mas que o fosse para beneficio de todos e não somente de nós mesmos.
No entanto, olhamos para esta maravilhosa criação de Deus e queremos tirar dela todo proveito. Agimos como garotos mimados que acham que tudo é seu e todos lhe devem agradar inclusive Deus e que não devemos nada a ninguém. É por isso que a maioria esmagadora luta para melhorar a sua vida com a seguinte lógica: use o outro em seu favor e o mundo para obter lucros.
Essa lógica influencia a maioria a viver olhando para Deus quando precisa de algo, para o mundo para o que pode tirar dele e pouco ou nada para os outros.
Uma vida com significado implica ter um sentimento de dívida o que nos leva a estar atento a Deus, ao mundo em que vive, e aos outros.
A falta de sentimento de divida para com o mundo leva a pessoa a perguntar “o que obterei da vida”, quando deveria perguntar “o que a vida obterá de mim? Como posso retribuir tudo que conquistei. Que marcas deixarei? Como influenciarei onde vivo?”.
O homem moderno acredita que mundo está em dívida com ele, que a sociedade está carregada de deveres para com ele.
Tal sentimento leva o ser humano a viver em função de si mesmo, em busca de uma felicidade que venha através das realizações e conquistas pessoais, coisa que Salomão já constatou ser “inútil, é correr atrás do vento”.
Leva a maioria a lutar para melhorar sua vida e nunca lutar para ajudar outros a mudarem de vida.
Essa falta de sentimento de dívida possibilita surgirem os corruptos e os corruptores, uma sociedade sem equilíbrio, uns com mais outros com muito menos, prolifera o egoísmo, o orgulho, o narcisismo. Justifica o se dar bem sejam quais forem os meios. Produz gente fraca, mimada que quando a vida não lhe permite realizar seus sonhos e desejos, decide dar cabo dela ou viver como vítima esperando que todos em sua volta o vejam como coitado.
A falta de sentimento de divida para com Deus leva o ser humano tratar Deus como um devedor.
Uns afirmam que Ele deveria remover os problemas do mundo, que Ele deveria acabar com a pobreza, com as injustiças e com as enfermidades. Como tais problemas não são resolvidos alguns afirmam “não há Deus”, Outros dizem Deus é mal, é injusto e por isso não quero um Deus como esse.
Entre tais estão os crentes que tem os mesmos sentimentos sobre Deus. Para estes, Deus tem a obrigação de lhes abençoar, de lhes fazer prosperar, de curá-los e etc. Os crentes com tais pensamentos tratam Deus como um Deus utilitarista, como um ídolo. Usam Deus para seus fins. Dai proliferarem as campanhas de determinação, formas de tentar convencer Deus a fazer o que se quer. Deus se torna para tais um ídolo.
Combatemos essa falta de sentimento de dívida com amor.
A lei básica dada a Moisés consistia de dez mandamentos. Quatro deles tem a ver com o relacionamento com Deus(não terás outro Deus; não farás imagens; não tomarás o nome de Deus em vão; santifica o sábado) e seis com o relacionamento uns com os outros(honrar pai e mãe não matar, não roubar, não adulterar, não dar falso testemunho, não cobiçar). Jesus os resumiu em apenas dois: amar a Deus e ao próximo.
Este resumo nos leva a um sentimento de dívida a Deus e aos outros.
Assim como é fundamental para existência do homem que haja um sentimento de obrigação, de divida para com a sociedade, assim como também deve haver um sentimento de divida para com Deus.
Qualquer conquista deve me levar a honrar a Deus e ao próximo.
O sentimento de divida para com a sociedade e para com os outros nos faz tirar os olhos apenas de suas possíveis realizações e conquistas, e olhar para fora, para o outro. Sua felicidade não depende apenas de suas realizações e conquistas pessoais.
Ser devedor para com Deus é adquirir a consciência de que Deus nos deu tudo para gozarmos do que recebemos e para repartir.
Não ser devedor para com Deus implica não honrá-lo, não reconhece-lo como provedor.
Quando Paulo se encontrou com Deus um sentimento de dívida se apossou dele e passou e se sentir um devedor diante de Deus e dos homens (Rm. 1:14, 1 Co. 9:16).
A sociedade seria bem melhor se os filhos de Deus vivessem com esse sentimento de dívida.
É tempo de olhar pra fora e ver as necessidades e como fazer para repartir o que temos. Meu desejo é que sejamos essa igreja cheia de gente que pode dizer: “O que recebi do Senhor isso mesmo reparti”.