Jesus havia multiplicado pães e a multidão o procura a fim de ter mais comida de graça. Quando perguntam a Jesus “quando chegaste aqui?”, queriam dizer: perdemos mais pães multiplicados? Perdemos alguma comida nova? Qual é a boa dessa hora que perdemos?
“comeram e ficaram satisfeitos” (v,26)
A satisfação deles não dizia respeito a Jesus, aos seus ensinos, e nem mesmo por observar o sobrenatural, mas apenas àquilo que satisfazia suas necessidades mais imediatas.
A proposta de Cristo foi e ainda é confundida como algo que satisfaz a carne. Pode ser uma comida, mas por ser tomada também como se fosse uma filosofia de vida, ou uma nova forma de ver a vida.
Jesus diria hoje o mesmo nas portas das igrejas: “vocês me procuram porque comeram e ficaram satisfeitos, mas nunca estão saciados.” Nunca estão em paz ou satisfeitos com a vida, pois o âmago do ser continua intacto. Com o âmago do ser intacto tudo que a pessoa faz em sua vida é carne o que leva muitos crentes viverem na carne e pela carne sem nunca estarem satisfeitos.
“Trabalhai não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna”.
Há uma comida que é de outra ordem e outra natureza e que nos faz participantes de uma natureza completamente diferente da natureza que comumente conhecemos.
Fica tão claro que o que queriam era pão multiplicado que ficam constrangidos e perguntam o que fazer para realizar as obras de Deus.
Qual é a obra de Deus?
A obra de Deus é apenas crer em Jesus Cristo e em tudo que ensino e fez. Não é a obra que um homem ou um sistema religioso realiza por nós.
Eu sou o pão da vida, aquele que vem a mim nunca terá fome; aquele que crê em mim nunca terá sede (v,35).
Jesus não estava se referindo a carne. A proposta de Cristo é de uma satisfação espiritual e existencial. O corpo está também incluído na ressurreição do último dia quando Deus fará “novas todas as coisas”.
A pregação que é feita hoje foge de falar da profundidade da transformação que Deus tem pra raça humana porque é mais fácil falar de misticismos, de euforismo, de emocionalismo.
A conversão que Deus tem para o mundo diz respeito a uma identificação profunda com a pessoa de Jesus, o Deus conosco. Não é uma identificação com nenhum mestre, pastor, bispo ou qualquer figura humana.
A igreja também foge desta mensagem, pois ela implica no abandono de uma vida baseada numa identificação com uma religião para uma identificação com a vida de Cristo – é Comer e beber de Cristo.
Comer e beber de Cristo significa identificar-se completamente com Jesus Cristo por meio da fé na obra que Cristo realizou e realiza por nós.
Essa é a verdadeira conversão.
Viver tal conversão é algo muito misterioso, pois não é aderir a uma igreja ou aos costumes dos evangélicos. É algo sobrenatural e impossível pelo esforço humano.
Não é possível se converter a Deus.
Se você se converteu peça a Deus que lhe converta, porque quando ele te converter verdadeiramente serás convertido.
Este tipo de conversão é vazia e fraca.
É uma conversão de um modelo de vida a outra, de um estilo de vida a outro. Isso não é conversão a Deus. A proposta de Deus é impossível ao homem por si mesmo – Ninguém pode vir a mim se o Pai não o atrair (v,44).
Quem come a minha carne e bebe do meu sangue permanece em mim e eu nele.
É uma completa transfusão de sangue, um sangue espiritual, pois em nós mesmos não há vida.
Quando comemos ou bebemos algo, depois que o alimento ou liquido entra no organismo não conseguimos mais diferencia-lo de nós. Devemos ter uma identificação tão forte com Jesus a fim de que não seja mais possível separar onde termina minha vida e onde começa a dele. A nossa carne está perdida e corrompida para sempre, para sempre maculada pelo sangue de Adão. Mas se nos identificamos com Cristo, crendo nele e no seu evangelho de todo coração, nós passamos a viver uma vida que é a própria vida de Cristo.
E por mais que a carne se corrompa a cada dia, nosso espírito se renova a cada dia com o Espírito de Cristo.
Não é uma vida que se viva de fora pra dentro, mas é uma vida que brota de dentro para fora. Jesus não trouxe uma religião, um livro de regras de como viver. Ele prometeu simplesmente uma nova vida – “eu vim para que tenham vida e a tenham em abundancia”.
Deus deu para adão e Eva suprimentos de alimentos, frutos e todo o Éden a sua disposição, mas também e principalmente, colocou no meio do jardim a árvore da Vida – O centro espiritual de toda a vida do jardim do Éden. A vontade de Deus é nos dá um novo tipo de vida que nos permite existir de uma forma completamente diferente de tudo que existe .
Essa é a vida abundante. É mais que vida eterna no céu, é vida eterna também na terra.
Essa vida que brota de nós nos ensinará todas as coisas.
Isso foi um golpe muito forte nos discípulos que esperavam dele respostas prontas e regras que se assemelhassem ao que eles conheciam como religião. Mas a proposta de Jesus não se equiparava a nada, muito menos ao judaísmo, pois não dizia respeito a um reino que se podia ver, mas um reino que se estabeleceria nos corações e, acima de tudo, em nossas consciências.
“Eu vim para que tenham vida abundante” – Vida eterna na terra também.
É uma forma de existir, uma maneira nova de ver a vida e sentir a vida. Tudo isto tem a ver com o interior, com um fluxo de vida que influencia acima de tudo, nossos sentimentos em relação ao mundo exterior.
E esta é a obra que Deus tem para a raça humana – o plano de Deus é criar um novo homem com um viver diferente e que não encontra sua esperança e vida na carne e nem no sistema do mundo, mas dentro de si mesmo onde Deus vive.
“Duro é este discurso?”
Não! Duro é o discurso da religião, mas a cegueira é tamanha que não permitia e ainda não permite ,quem dela se alimenta, perceber a sua dureza.
Jesus quer apenas que trabalhemos não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna.