“Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas, não vim para revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra.aquele pois que violar um destes mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar aos homens, será considerado mínimo no reino dos céus, aquele, porém, que os observar e ensinar, esse será considerado grande no reino dos céus. Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus”.
Tratar deste contexto tendo como pano de fundo a felicidade é interessante. Primeiro de tudo deve-se ressaltar:
a) fala-se de felicidade segundo Deus e não segundo o padrão social vigente.
b) a busca da felicidade terrena nunca norteou a vida dos heróis da fé. Nenhum deles se tornou grande por querer ser feliz.
Como tais palavras de Jesus podem nos deixar felizes segundo Deus:
1 – Deus não muda. Este conceito da estabilidade divina é chave pra nós humanos. Do lado daqui vivemos numa instabilidade enorme. Aquilo que era certo hoje torna-se errado amanhã. Melhores amigos separam-se de um dia pra outro. Paixões arrebatadoras se esgotam para dar lugar a outra ainda mais ardente que logo também será esquecida. Como diz a canção: “vamos todos numa linda passarela de uma aquarela que um dia enfim descolorirá”. É como vivemos! Tudo descolore, desbota, muda, como uma nuvem que no fugaz percurso de sua existência assume diversas formas e nenhuma delas chega a ser real, são apenas projeções, como um sonho. Deus é uma rocha eterna, sempre no mesmo lugar, no mesmo formato, sem sombra de variação (Tg.1:17) além do efeito do desgaste e do tempo. Vive num eterno hoje (Hb.4:7) sem memórias do ontem e sem expectativas do amanhã. Quem anda com Deus tem a paz de um relacionamento estável.
2 – não vive debaixo da lei. Quem vive na realidade do “não toques, não proves, não manuseies” (Cl.2:21) está debaixo de maldição (Gl.3:10). Qual maldição?! A maldição da condição humana: “não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço … Quando quero fazer o bem o mal está comigo… Vejo nos meus membros outra lei, que batalha contra a lei do meu entendimento, e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros. Miserável homem que sou!”(Rm.7). Ora neste cenário estávamos condenado á infelicidade de uma vida sem Deus, pois para relacionarmos com Ele teríamos que cumprir a Lei, mas o problema é que “qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos” (Tg.2:10) desta forma “é evidente que, pela lei, ninguém é justificado diante de Deus” (Gl.3:11). Como resolver esse impasse já que quem estabeleceu a lei não muda? “O fim da Lei é Cristo” (Rm.10:4). “Eu não vim revogá-la vim cumpri-la”. Diz Jesus e ao cumpri-la, abriu espaço para uma nova criação com outras regras e um novo e vivo caminho para Deus. (II Co.5:17).
3 – a nossa justiça excede a dos fariseus. A discussão sobre justiça é um ponto essencial do evangelho. Em (Mt.5:6) Jesus nos desafia a ter “fome e sede de justiça”. Paulo nos diz em (Rm.14:17) que “justiça, paz e alegria no Espírito Santo” são os fundamentos do reino de Deus. Jesus usa os fariseus como manifestação de uma justiça ilegítima. Quem vive esse modelo nunca entra no reino, porque tais pessoas não se vêem como “humildes de espírito” traço principal de quem vive no reino de Deus. (Mt.5:3). O fariseu cria uma justiça fictícia, na qual ele se basta, ele é o seu próprio deus e juiz. Absolve-se com freqüência mesmo sabendo que não é inocente, enquanto condena o outro constantemente mesmo sem conhecê-lo. Para o fariseu a culpa principal do outro, e o motivo pelo qual receberá a sentença de juízo e condenação, é que ao outro não é ele! Salvo engano, a única vez que um fariseu aparece agradecendo na bíblia é quando diz: “graças te dou porque não sou como os demais homens”! (Lc.18:11). Esta justiça focada em si não permite acesso ao reino! A justiça que excede essa é reconhecer-se pecador, culpado, falho, mas crer na justiça provida por Deus através de Jesus e ter consciência que nisso todo mundo é igual. Sendo assim, nem tento me justificar (é Deus quem os justifica! Quem os condenará? – Rm.8:33-34), nem condenar o outro: “se tu julgas a lei, já não és observador da lei, mas juiz. Há só um legislador que pode salvar e destruir. Tu, porém, quem és, que julgas a outrem? (Tg.4:11-12). Ando com humildade e na total dependência da graça e vejo o próximo nesta mesma condição.