Aproxima-se a páscoa e com ela a possibilidade de refletirmos sobre o maior evento da história e da eternidade, o amor do Deus eterno pelo seu povo. O capítulo 13 de João nos dá uma panorâmica do importante momento em que Jesus reúne com seus discípulos para celebrar a ceia e nesta ocasião celebrar com eles a nova aliança.
É neste contexto que Jesus lava os pés dos discípulos, mas antes de tratarmos sobre isso, vale destacar duas questões importantes:
1 – (vs.21) “perturbou-se Jesus em espírito”. A experiência de Deus como homem, não foi uma farsa, uma encenação, foi verdadeira, como para nenhum outro! Nos dias atuais, muitos carecem de um coração sensível, de uma alma capaz de condoer-se ou mesmo alegrar-se verdadeiramente. Tudo está corroído pelo tédio! “Socorro eu não estou sentindo nada”! Diz uma canção popular, expressando o homem em nossos dias. Superficialidade e vazio. Jesus não! Ele era intenso. Aqui ele se “perturba em espírito”, mas com a morte de Lázaro ele se “agitou em espírito” e quando ele viu os simples e humildes entendendo a verdade do Reino, que os poderosos não alcançavam, ele “exultou em espírito”. Jesus viveu intensamente cada momento conosco e nos desafia a sentir e viver do mesmo jeito.
2 – (vs.26 e 27) “após o bocado entrou nele satanás”. Este é um evento complicadíssimo! Jesus havia lavado os pés de Judas quando lavou os dos demais e agora oferecia a ele pão molhado (em vinho?), símbolos da graça e da aliança divina, mas quando Judas dele se alimenta, quem dele se apossa é o diabo! Duas coisas se destacam aqui: 1 – atos religiosos sem coração, produzem maldição e morte! Paulo fala da igreja de coríntios que muitos estavam morrendo por participarem da ceia do Senhor indignamente; 2 – O diabo está nos lugares menos prováveis! Ez.28 fala que o querubim ungido, que habitava no monte santo de Deus, no meio das pedras afogueadas, tornou-se diabo! Um ser que gozava da presença e da intimidade de Deus e que, contudo, tornou-se mal. Agora, na intimidade do cenáculo, no momento em que o plano de Deus iria ganhar contornos mais reais ao ser celebrada a nova aliança, lá estava o diabo novamente! Cuidado! As aparências enganam! Ao verem Judas sair, os demais apóstolos imaginaram que ele ia fazer algo bom, útil, abençoado, por não imaginarem que o diabo estaria ali tão perto, em um momento tão especial e santo!
O lava pés
Primeiro é preciso dizer que Jesus nunca pensou em tornar isso uma cerimônia, um evento a ser vivenciado anualmente. O que ele queria era deixar um exemplo para ser seguido pelos apóstolos e que não tinha necessariamente a ver com lavar os pés literalmente, mas em servir o outro sem limites. O serviço que Jesus prestou aos discípulos era prestado pelo mais humilde servo da casa. Deus, o criador de tudo, tirar sua capa, enrolar-se com uma toalha e dispor-se a encher um balde para lavar os pés sujos e poeirentos dos humanos é algo além de qualquer compreensão! Haveria necessidade para tanto? Neste gesto não há uma demasiada exposição divina? Ele não corre o risco de ser incompreendido e mal interpretado? Não haveria Deus de pensar em sua reputação? Não deveria o Eterno colocar um limite, uma medida em suas ações? Não se deve estabelecer um limite para o amor? Santo Agostinho responde: “A medida de amar é amar sem medida”! Deus é amor e quando ama faz o que é sua natureza! Deus não pensa em si, pensa em nós e por isso é tão generoso em seu amor.
“se eu não te lavar os pés não tem parte comigo”, disse Jesus a Pedro, frente a posição deste de não lhe permitir lavar os pés. Na verdade, Pedro deveria ter pensado que isso era de fato contagioso. Pouco tempo atrás, os discípulos haviam presenciado, na casa de Lázaro, o gesto de Maria ao lavar os pés de Jesus com um perfume caríssimo e enxugá-los com seus cabelos, agora era Jesus que havia sido “contaminado” e então lavava seus pés, ele sabia onde isso daria: eles também iriam lavar os pés dos outros! Por isso, Pedro agradece o gesto, mas prefere se manter livre desse “vírus”! Mas Jesus o adverte que não existe Reino de Deus sem serviço uns aos outros. É no serviço uns aos outros, neste amor livre e despojado que as pessoas entenderão o projeto de Deus.